CAU/SP e IP
Texto elaborado por Laís Granado (@la_granado) e Julia Pádua.
“O GT ATHIS é um grupo que tem como referência os princípios do Comum e considera que, apesar de a habitação ser um direito básico, é constantemente colocado em risco pelo Estado ou pelo mercado” ¹. Desde 2018, há um esvaziamento das políticas públicas voltadas à habitação, que faz com que a população esteja ainda mais vulnerável e exposta a diversos riscos que afetam diretamente a sua saúde física e mental.
Diante da ausência de política habitacional, os editais de fomento do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR) e Conselhos de Arquitetura e Urbanismo das Unidades da Federação (CAU/UF) tem se mostrado essenciais para o desenvolvimento de ações que visam atuar frente as desigualdades e ausência de direitos da população, possibilitando que parte da população de baixa renda não fique desamparada.
Como consequência da parceria entre o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP) e o Instituto Procomum (IP), tem sido possível desenvolver projetos importantes para a região da Baixada Santista, além de fortalecer uma rede de profissionais que buscam atuar com as comunidades da região.
O primeiro projeto, realizado em parceria entre o CAU/SP e Instituto Procomum, teve início em janeiro de 2020. Os trabalhos iniciaram de forma presencial, estabelecendo articulações entre associações de engenheiros e arquitetos da Baixada Santista, universidades e poder público. Em março deste mesmo ano os trabalhos tiveram que ser pausados e quando houve o retorno das funções, todo o projeto teve que ser revisto e adaptado as novas condições sanitárias. O projeto que era para ser essencialmente presencial foi modificado para encontros virtuais, exceto a capacitação de mão de obra dos moradores da Vila Margarida, que contou com encontros virtuais e presenciais. Os encontros presenciais seguiram todas as recomendações da OMS para controle e combate da COVID-19.
As propostas apresentadas para o chamamento público 004/2019 atuaram em três frentes principais, que consistiam em um curso de capacitação, seminários de sensibilização do poder público e as oficinas de Desenvolvimento Pessoal Comunitário (DPC). O curso de capacitação, tinha como objetivo a formação de profissionais de diversas áreas para a atividade de ATHIS, buscando a multidisciplinaridade e a formação de uma rede de apoiadores na Região Metropolitana da Baixada Santista (RMBS) para a transformação local do cenário habitacional da região. Os seminários tiveram o intuito de sensibilizar e estabelecer um canal de diálogo com o poder público e, por fim, o DPC, apelidado de ATHIS em casa, teve a intenção de oferecer um curso de aperfeiçoamento da construção civil, teórico e prático, ministrado por profissionais do ramo da construção civil e serviço social. A ideia foi criar uma rede de ações e de conexões com apoiadores locais, possibilitando uma transformação na região e uma mudança na vida das famílias.
O trabalho em rede desenvolvido através desses projetos, teve o intuito de fomentar os Arranjos Produtivos Locais (APL) necessários para a consolidação de ações perenes de ATHIS, essenciais para a expansão do seu atendimento, já que em sua definição, os APL correspondem a uma aglomeração de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como governos, empresas, universidades e instituições de crédito.
Capacitação profissional
O curso de capacitação profissional foi direcionado para profissionais, estudantes e demais interessados em ATHIS. Foi realizado através de nove módulos, onde cada módulo era ministrado por um profissional que dava sua exposição teórica sobre a área a qual era especializado. A comissão organizadora do projeto procurou viabilizar o curso com ministrantes de diferentes áreas, tais como: arquitetura, engenharia civil, direito, serviço social e psicologia.
A princípio, o curso seria realizado de forma presencial, onde cada módulo seria realizado em uma cidade diferente da Baixada Santista, mas por causa do isolamento social ocasionado pela pandemia de Covid-19 em 2020, o curso foi realizado de forma virtual, o que foi um enorme desafio, mas também possibilitou um maior alcance de público, tendo participantes das demais regiões do país. Todas as atividades do curso foram gravadas e disponibilizadas no canal do YouTube do ATHIS na Baixada.
Seminários de sensibilização do poder público e sociedade
Os seminários de sensibilização foram direcionados ao poder público e aos interessados no tema, e realizados com o objetivo de expor a necessidade de ações de ATHIS na Baixada Santista e sua importância para o desenvolvimento sócio urbano da região. Foram realizados três seminários, de forma virtual, onde a mesa de discussão era composta por um arquiteto especialista, um comunicador social e uma liderança comunitária, sendo mediada por um integrante da comissão. Foram realizados debates e discussões relacionados a ATHIS e demais assuntos que tinham alguma relação com o tema do evento, onde o público poderia participar mandando comentários e questões para serem respondidas pelos profissionais que estavam presentes.
Desenvolvimento Profissional Comunitário
As oficinas virtuais de Desenvolvimento Profissional Comunitário (DPC) tiveram o objetivo de aprimorar o conhecimento prático na área da construção civil, de moradores do bairro Vila Margarida, em São Vicente, principalmente àqueles que trabalhavam ou possuíam algum conhecimento prévio em projetos de reforma e construção. O curso foi realizado através 13 módulos, sendo 8 módulos virtuais e 5 práticos, ministrados pelos arquitetos Luciana Dias e André Mafra, o pedreiro e pedagogo Sérgio Molina e o Paulo Henrique Torres, assistente social, morador da Vila Margarida, que possuem conhecimento e experiência em ações de ATHIS. Os encontros aconteceram aos sábados e domingos, para que o público alvo pudesse frequentá-lo, sem que prejudicasse sua rotina de trabalho. Os temas propostos eram discutidos em aula e preparados para a semana seguinte, de acordo com o interesse e necessidades dos inscritos.
Foram abertas 15 vagas para o curso online de DPC e teve a participação efetiva de 10 moradores, sendo feitas intervenções pontuais em 6 moradias. As 8 primeiras aulas ocorreram de forma virtual, disseminando conceitos e tirando dúvidas a respeito de suas moradias e necessidades.
Após 8 módulos de capacitação virtual, abordando os temas que perpassam a construção civil e entendendo as peculiaridades de cada participante, suas demandas e necessidades, deu-se início às ações de Desenvolvimento Profissional Comunitário (DPC). A princípio as ações de Assessoria Técnica seriam através de monitoramento virtual, porém entendendo as dificuldades de cada participante e a necessidade da ação para colocar em prática os ensinamentos dados virtualmente, foi decidido por ir a campo e ensinar e aprender junto com eles. Foi entregue um kit para cada participante com materiais de escritório, trenas e itens como: álcool gel, máscaras e face shield, rolinho de pintura, fita para pintura, fita crepe, super cola, entre outros itens de higiene e segurança.
Para a ação, os participantes foram separados em duas turmas com os monitores Luciana Dias e Sérgio Molina que passaram as orientações casa a casa e colocaram a mão na massa junto com eles. Os outros integrantes puderam acompanhar e também praticar, ampliando a gama de conhecimentos e a rede de contatos. As aulas de Sérgio Molina e Luciana Dias foram dadas concomitantemente e, enquanto Laís Granado acompanhava os trabalhos da Luciana, Renato Colin acompanhava o professor Sérgio Molina, ambos fazendo os registros e sanando qualquer contratempo. Paulo Henrique Torres, acompanhou ambas as equipes e junto a estudante de serviço social, Thais Helena, elaboraram um formulário aplicado aos participantes onde buscaram entender as necessidades de cada um e auxiliá-los na busca por informações.
Foram ministradas aulas de Chapisco, emboço, reboco, pintura, instalações hidráulicas, Mofo, impermeabilização, rachadura, revestimento, fundação, telhado e até como construir uma casa do zero. Enquanto ensinavam, alunos e professores colocavam a mão na massa, colocando em prática suas vivências e tudo o que haviam aprendido, seja de forma virtual ou presencial.
Mesmo diante das condições extremamente adversas, com o início de uma pandemia e pouco tempo hábil, foi possível realizar um trabalho importante e demonstrar a relevância do assessoramento técnico, trazendo capacitação profissional de modo a ampliar a rede de profissionais atuantes, a sensibilização do poder público e o DPC que foi uma espécie de canteiro-escola com a presença de arquitetos urbanistas, assistentes sociais, comunicador e pedagogo, trabalhando em conjunto com os moradores, na busca pela melhoria habitacional e transformação social.
Fotos: Laís Granado
Foto: Renato Colin
Foto: Laerte Pinheiro