Autores
- Camila Braga – @camilalopesbraga
- Carla Matsuo – @carlamatsuo_arquitetura
- Carol Camargos – @camargoscarol_
- Célia Regina Pisani – @gipisanigipisani
- Denis Ferri – @denis_fs
- Luiza Bechelli – @luiza.bechelli
- Pâmela Leme – @pammleme
- Ricardo Pupo – @rpupoprojetos
PROJETO PARA SEDE DO INSTITUTO FAMÍLIA CHEGADOS Vila Margarida, São Vicente – SP ano: 2021
O projeto fez parte de um edital que teve como objetivo alavancar propostas e projetos diversos para as comunidades dos bairros Vila Margarida e México 70 na cidade de São Vicente. Após uma etapa inicial de aproximação ao território de estudo, constatou-se a atuação de diversas associações comunitárias e de organizações sociais na assistência de famílias em situação de vulnerabilidade. Dentro desta realidade, mostra-se de suma importância o trabalho desenvolvido pelo instituto social que o projeto abrigará, organizado e administrado por uma das primeiras famílias moradoras do bairro. Com o objetivo de voltar a atenção de “quem chega em prol dos que ficam” na quebrada, o instituto busca criar mudanças positivas e significativas na vida de crianças e jovens periféricos, fomentando os sonhos da comunidade, impulsionando o desenvolvimento do território e explorando as diferentes possibilidades de vida através da arte, cultura, educação, esporte e geração de renda. Com uma temática voltada ao Hip Hop, o instituto pretende mostrar que a rua é e deve ser o espaço de encontro e brincadeira e não de violência e criminalidade.
Atualmente as atividades do instituto são realizadas na casa da família em um estreito lote residencial urbano no bairro Vila Margarida. A equipe de arquitetos responsável pelo desenvolvimento do projeto procurou atender a demanda da instituição sem deixar de lado a realidade dos projetos de interesse social. A busca por materiais e técnicas construtivas simples guiaram o partido arquitetônico valorizando o saber fazer local e procurando baratear o processo construtivo da obra.
Característico
Característico em bairros autoconstruídos, propôs-se a estrutura em concreto moldado in loco, vedos em tijolos de alvenaria BTC (bloco de terra comprimida) e fachada em telhas de propileno sustentadas através de uma estrutura de madeira simples com proteção CCB (borato de cobre cromatado).
Com o intuito de mostrar uma nova direção através da cultura, a instituição empresta o caminho como metáfora para o edifício, que emerge na paisagem predominante térrea do bairro como um grandioso farol.
Com suas luzes acesas e em constante movimento, a transparência dada pelos fechamentos em polipropileno chama atenção ao mostrar o edifício vivo e aberto a novos percursos e possibilidades. A proposta do programa de necessidades é distinta, pois tem como objetivo a implantação do instituto e de duas unidades residenciais voltadas para a família que o mantém. Para enfrentamento do problema, o programa foi disposto em dois blocos, sendo o inferior o embasamento residencial e o superior, composto pela torre translúcida, a instituição
Para acesso à esta, foi proposta uma praça conectando o térreo ao primeiro pavimento como continuidade física da rua alinhada ao eixo do lote, conhecida pela comunidade como rua “do lazer” por abrigar eventos públicos aos finais de semana.
A praça elevada, estendida até o alinhamento, paira sobre a loja da instituição na fachada ativa. O percurso arquitetônico em lotes estreitos, problema comum na disposição dos espaços em edifícios institucionais, é resolvido através da escadaria monumental central conectada ao vazio interno, aberto para melhorar a eficiência energética da torre, uma vez que possibilita o condicionamento térmico passivo dos ambientes.
Através do vazio interno, são interconectados importantes espaços da instituição como a Biblioteca (o Bibliobank) e o Salão de Dança. Com pé direito duplo e com a escadaria como plateia, o salão é o espaço nobre do edifício, onde acontecerão as rodas de Break, aulas de dança e o Favela Fashion Dique, evento de moda periférica realizado pela instituição com objetivo de ensinar o empoderamento feminino. Voltados para a fachada frontal e com aberturas em fita, estes ambientes possibilitarão ainda a apreciação da paisagem insular de São Vicente.
Na cobertura está localizada a horta comunitária e o Mirante das Pipas, espaço destinado à prática desta brincadeira que é o símbolo da instituição, aproveitando o sentido dos ventos predominantes na região. Este pavimento conta ainda com placas solares e caixas para retenção da água da chuva, incluindo a edificação dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030 da ONU (ODS 2030).
Vale ressaltar que todo o projeto foi pensado para ser executado em etapas, levando em consideração a viabilidade financeira da obra, uma vez que esta dependerá do acesso a financiamentos e recursos externos a serem captados pela instituição.